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“UFPE É ‘PÁRA’ TODOS”

por Camila Pimentel (camila.pimlopes@gmail.com)

 
Muito se fala sobre aqueles que, por algum motivo, perderam a visão, ou adquiriram qualquer tipo de limitação. Aqueles para os quais a deficiência veio com o nascimento são menos freqüentemente lembrados. São em sua maioria tratados pela sociedade como “coitadinhos”. Mas essa não é sua realidade.

O Prof. Francisco José de Lima, do Centro de Educação, é cego de nascença. Aos 43 anos, alcançou o sucesso profissional e pessoal, e agora busca ajudar outros a fazer o mesmo.

Quando criança, Francisco ouvia de seus pais que não poderia estudar, porque era cego. Ao ser levado ao médico certo dia, porém, este disse que cegos também podiam ir à escola. Francisco, então, após muita insistência, foi mandado por seus pais a uma escola especial em São Paulo, capital,enquanto seus pais continuaram no interior onde havia nascido. Alfabetizado em Braille, Francisco também aprendeu o alfabeto latino, através do programa Vila Sésamo. Graças a uma percepção de claro/escuro – que se tornou apenas periférica graças a uma cirurgia de glaucoma em 2000 – o menino Francisco pôde aprender as grandes letras em preto-e-branco na tela da TV.

A partir da 5ª série, foi mandado a uma instituição convencional, onde sofreu maior discriminação de professores que de alunos. O professor diz que muitos não sabiam como lidar com uma criança cega, e não havia qualquer adaptação para facilitar os estudos. Apesar disso, Francisco terminou os estudos e fez Psicologia na UNESP (Universidade Estadual de São Paulo) e Mestrado em Psicofísica na USP, onde também completou o Doutorado.

Agora professor de Educação Inclusiva na Graduação em Pedagogia da UFPE, o professor Francisco cita como dificuldades para alunos e professores com deficiência principalmente a falta de estrutura e as chamadas “barreiras atitudinais”.

Sobre essas últimas, o professor cita a dissertação “Barreiras Atitudinais nas Instituições de Ensino Superior: Questão de Educação e Empregabilidade”,defendida em dezembro de 2007 pela mestre em Pedagogia Lívia Guedes. Segundo ela, as “barreiras atitudinais” são conclusões subjetivas e idealizadas sobre a deficiência, que dificultam a empregabilidade dos portadores. Nos processos de seleção, por exemplo, os escolhidos (quando escolhidos) são os que apresentam deficiência mais leve, pois o empregador não acredita na capacidade dos deficientes de realizar plenamente suas funções. Quando conseguem chegar aos testes de seleção, e finalmente ao emprego, é exigido do deficiente que ele se adapte ao local de trabalho, e não o contrário.

Com isso chega-se à questão estrutural da UFPE, que foi assim resumida pelo professor Francisco: “A UFPE é ‘pára’ todos”. A troca da preposição pelo verbo resume a questão da acessibilidade aos deficientes no campus. Ao chegar na sala do professor, ele perguntou:

“Vocês vieram de elevador ou de escada?”
“Elevador? Que elevador?”
“Vocês não viram? Pois é, nem eu.”

Esse breve diálogo ilustra a atual situação do Centro de Educação: não há acesso de qualidade aos deficientes. Um cadeirante, por exemplo,não poderia assistir a suas aulas em salas do primeiro andar, pois não teria como subir. Outra observação do professor Francisco é com relação às portas giratórias das entradas. Novamente, um cadeirante não poderia entrar, pois sua cadeira não caberia através das portas. Ele ou ela teria que ficar esperando que alguém abrisse o portão, enquanto isso se submetendo à insegurança que ronda as paradas de ônibus do campus ( e também às péssimas condições das calçadas). A Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGEPE) foi procurada para dar sua versão a essas denúncias, mas no dia marcado para a entrevista não havia ninguém presente.

A falta de adaptação está também nas salas de aula e bibliotecas. Professores não acostumados a deficientes em sala e a falta de livros em Braille para os alunos com deficiência visual são alguns dos problemas que o professor cita. Para tentar lutar contra eles, foi criado o Centro de Estudos Inclusivos,com sede no Centro de Educação. O CEI tenta melhorar as condições de estudo para alunos com deficiência física (por exemplo, com a instalação de softwares de voz para a leitura de deficientes visuais) e distúrbios de aprendizado, como a dislexia. Busca-se, com isso, facilitar a adaptação e o aprendizado.

Outro instrumento de adaptação utilizado pelo professor Francisco é a cadela Okra. Okra é um cão-guia, treinada para acompanhar deficientes visuais. Francisco foi a segunda pessoa em Pernambuco a utilizar um cão-guia. Por causa da pouca quantidade de cães-guia em Pernambuco (3, atualmente), Okra ainda causa estranhamento, principalmente em pessoas que desconhecem a lei segundo a qual um cão-guia pode entrar em quase qualquer lugar,desde que acompanhada de seu dono. Existem aproximadamente 50 cães-guia no Brasil, que são em geral doados aos deficientes visuais.

Em sua longa vida profissional, o professor Francisco José de Lima sofreu muitas vezes o que ele chama de “preconceito branco”, na forma de atitudes não abertamente discriminatórias, mas que representam frustrações na vida de deficientes. É contra esse tipo, e todos os outros tipos, de discriminação que ele luta, para mostrar que deficientes não são nada além de pessoas comuns, com a mesma capacidade, como demonstra sua extensa carreira.

Veja um trecho da entrevista do Professor Francisco José de Lima:

 

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